quinta-feira, 6 de agosto de 2009

um olhar...

... sobre o murro no estômago que é este filme, "Hunger", de Steve McQueen, que nos deixa prostrados na cadeira a ver os créditos a passarem sem vontade de reacção, maravilhoso na sua essência e na sua forma de mostrar até onde pode chegar a obstinação de um ser humano por uma causa. A determinação mostrada em forma de corpo humano a degradar-se lentamente, sentindo-se no encosto da cadeira da sala, que se torna tão desconfortável como de um banco de pau se tratasse. É um filme que não pára de nos agarrar, umas vezes para atirar contra uma parede, outras para nos colocar sentados frente a frente com a explicação, lógica para quem a conta, para tudo aquilo, para toda aquela vontade de dar o corpo pela causa. A causa, neste caso, sendo obter estatuto de presos políticos e não de simples criminosos, com direito a usar as suas próprias roupas, ao mesmo tempo que pretendem chamar a atenção para a sua luta, a luta das suas vidas, por uma Irlanda do Norte.

O epicentro do argumento do filme é Bobby Sands, um activista do IRA, e dos seus últimos meses, já após a sua detenção por posse ilegal de armas. Sands tornou-se a ligação entre a liderança do grupo e os activistas presos no mesmo local e o principal mentor de uma greve de fome levada a cabo por esses mesmos activistas, e que teve como balanço final a perda de 9 vidas, transformadas em mártires. Sands explica, numa conversa de 20 minutos com um padre a sua motivação, num filme que até então tinha mostrado as condições de vida não só dos presos, mas também dos guardas prisionais, humanos que são e aos quais como sociedade exigimos mais do que qualquer ser humano deveria ser exposto. O filme é belo na forma como nos leva para dentro da cabeça, do coração de uns e outros, presos e guardas. E nos mostra o conflito gritante que reside num indivíduo que tem nos seus ombros uma enorme responsabilidade civil.


É duro, é real, é Cinema.

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